O que garante sucesso a uma canção? Para tentar responder a isso, focamos no maior sucesso musical brasileiro dos últimos tempos: a versão de Michel Teló de Ai, se eu te pego, que ruma a atingir a marca do bilhão de visualizações no YouTube.
Nós também gostamos muito mais de outras músicas e concordamos que há muita coisa ruim no mercado. E seja qual for o veredito sobre a qualidade desta música, repassamos a pergunta que a nós da Presto intrigou: por que foi ela que logrou o que nenhuma ou quase nenhuma outra canção brasileira lograra?
Os motivos que explicam seu enorme sucesso, o desta versão em questão, extrapolam o âmbito musical, embora este tenha sua relevância. Identificamos aspectos que contribuíram para a música em questão ser sucesso, mas não podemos dizer que encontramos uma receita.
Não haver receita para o sucesso explicaria esta busca ser indagação perene na Estética e no business da Música. Parece haver algo que advoga por si nessa música. O quê? Je ne sais quoi, admitiria um esteta.
Estamos cientes de que atualmente há novos atalhos para a fama e que para a geração conhecida por Y e por Millennial importam mais vídeos de seis segundos que os tradicionais três minutos de canções ou 4:33 de “silêncio”. Mas ainda cremos na música. Então vamos aos motivos, alguns dos quais, claro, são méritos dos autores da canção.
MÚSICA
A canção gozava de boa fama prévia em mercados regionais.
Michel Teló não foi o primeiro a gravar esta música; na verdade, há ao menos três versões anteriores: Os Meninos de Seu Zeh gravaram-na e conseguiram alguma repercussão citadina; o grupo Cangaia de Jegue fez a primeira gravação comercial da música, tornando-a sucesso na Bahia; e o grupo Garota Safada regravou a canção e elevou o sucesso ao nordeste brasileiro.
“Ai, se eu te pego” é um reggae, estilo mundialmente consagrado.
O reggae é consolidado, internacionalmente reconhecido, e foi explorado por artistas originalmente de outros estilos: Led Zepelin gravou D’yer Mak’er; Guns & Roses, no show de homenagem a Freddy Mercury em Wembley, fez um interlúdio em Knock on the Heaven’s Door; até Skrillex se inspirou no reggae em First of The Year.
Você pode ouvir os exemplos ao final da página ou no SoundCloud.
O arranjo é conhecido do Brasil; e a harmonia, do mundo.
O arranjo segue o estilo musical sertanejo universitário, um country-esque, digamos, vastamente difundido em festas, rodeios e casas noturnas do Brasil. Isto torna a música mais assimilável e aceitável ao resto do país e de muitas partes do mundo. A sequência de acordes já foi usada em muitas canções.
O ritmo dançante levou a música a mais festas e casas noturnas.
A levada da bateria da primeira e da segunda parte são baseadas no estilo chamado vanerão, de origem alemã, e que se assemelha bastante ao arrocha, bastante difundido no nordeste brasileiro, e é dançante e percussivo; esses ritmos, junto com a sanfona, conferem peculiaridade ao arranjo e mantém ligação com o forró, origem da canção.
COREOGRAFIA
Em cima, embaixo, puxa, e vai.
Se você não sabe dançar bem mas quer dançar, dance concentrando-se em uma parte do corpo por vez, como ensinou Kiesza. A coreografia da canção é do tipo com a qual qualquer um pode se aventurar.
LETRA
Ai, se eu te canto!
A letra descreve uma paquera. Quem a canta se direcionando a alguém, está “cantando” o interlocutor. A eficiência desse expediente explica por que esse tema é tão recorrente em músicas de grande sucesso.
Adaptação para as regiões que não conheciam a música.
A letra original foi adaptada para trocar sua peculiaridade regional em favor de um potencial alcance nacional: “sábado no Kabana’s” (casa noturna que há em Feira de Santana, Bahia), e posteriormente “sábado no forró”, foi substituído por “sábado na balada”, termo usado na região sudeste do país. E o sotaque paranaense de Teló trouxe familiaridade para as regiões sul e sudeste, onde ainda não era conhecida.
Nossa, nossa. Delícia, delícia.
O recurso de repetir e enfatizar vocábulos e fonemas é tradicional porque de sucesso: canções, lançamento de produtos, discursos políticos e de formatura, todo mundo usa, e, usando minimamente bem, bem funciona.
MARKETING
R$0,00 é muitíssimo menos que R$0,01.
A gratuidade de um produto não garante a sustentação do seu sucesso, mas ajuda e muito na divulgação inicial: a música foi liberada gratuitamente para download no site do cantor e lançada no YouTube simultaneamente, facilitando aos usuários que a ouvissem e divulgassem sem entrar na zona de questionamento que, como antecipara Chris Anderson, há até no micropreço.
Oh, if I catch thee!
A música teve uma versão em inglês, lançada pelo próprio Michel Teló, garantindo que o idioma mundial fosse aliado do sucesso internacional, fórmula consagrada com artistas latinos e asiáticos.
SORTE
CR7 é goal.
A música, já um sucesso nacional, era conhecida de muitos dos futebolistas brasileiros, como Neymar (então no F.C. Barcelona) e Marcelo (Real Madrid F.C.), que ouviam-na nos vestiários de seus times. O grande sucesso internacional veio quando Cristiano Ronaldo, o esportista de maior influência no mundo e nas redes sociais em 2015 segundo a revista Forbes, comemorou um gol com a coreografia de “Ai, se eu te pego”, atraindo atenção da imprensa internacional, que divulgou o vídeo da música intensamente.
Aquecimento global.
A empatia ao redor do mundo com a música foi tanta que ela ficou em primeiro lugar nas paradas musicais da Áustria, Bélgica, Alemanha, Colômbia, Honduras, República Tcheca, Bulgária, Itália, França, Israel, entre muitos outros, e ganhou muitas versões, dentre elas destacamos as polonesa, holandesa e espanhola.
(Guilherme Schwenck & Thiago Rocha)
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